Mato Grosso do Sul está se destacando no cenário nacional ao avançar na construção de um plano de transição energética que prioriza tecnologias de captura de CO2. Com mais de 90% de sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, o estado busca alinhar-se aos objetivos de mitigação das mudanças climáticas previstas pela ONU. A capacidade instalada de geração de energia no estado, em 2023, foi de 7.236 milhões de quilowatts, com uma contribuição significativa de usinas solares e de biomassa.
Apenas uma pequena parcela, 7,98%, da energia gerada no estado do ano passado, veio de fontes não renováveis, como termelétricas a gás ou óleo diesel. Este cenário coloca Mato Grosso do Sul em uma posição estratégica para se tornar um campo de implementação de tecnologias de transição energética, conforme destacado Artur Falcette, secretário executivo de Meio Ambiente da Semadesc.
Falcette enfatiza que, além de converter a matriz energética, é crucial um avanço em tecnologias de captura e armazenamento de CO2 para atingir os objetivos globais de descarbonização. Recentemente, servidores da Semadesc e membros da Câmara Técnica de Energias Renováveis participaram de um simpósio sobre o tema, onde a engenheira de Petróleo Nathalia Weber apresentou soluções viáveis para a transição energética.
Weber, professor da UFRJ e cofundador da CCS Brasil, argumenta que a transição para fontes renováveis é essencial, mas os custos elevados tornam o processo desafiador. Uma prática alternativa seria descarbonizar as fontes existentes usando filtros para capturar o CO2, que seriam então armazenados em camadas de rochas subterrâneas.
Mato Grosso do Sul possui um grande potencial para essa tecnologia, especialmente na produção de etanol, que emite cerca de 5 milhões de toneladas de CO2 anualmente. Este gás pode ser capturado diretamente das chaminés das usinas, sem a necessidade de filtros adicionais, tornando o processo mais econômico.
O setor de bioenergia no estado está investindo em eficiência e novos produtos, segundo Érico Paredes, diretor técnico da Biosul. Ele destaca que as tecnologias de captura de carbono são desafiadoras e dependem de parcerias estratégicas e políticas públicas de incentivo.
As metas globais de descarbonização são ambiciosas, e sem a captura de carbono, não serão atingidas, alerta Weber. A capacidade mundial de captura de carbono precisa aumentar significativamente nas próximas décadas para atender às metas de 2030 e 2050.
Falcette reforça que a transição energética é um processo complexo que requer a combinação de diferentes tecnologias e políticas. Mato Grosso do Sul está atento às inovações e busca construir uma política estadual que ofereça opções econômicas e de segurança.
O secretário destaca a importância de investigação como o conduzido por Weber para esclarecer o corpo técnico responsável pela legislação estadual sobre transição energética. Ele conclui que é necessário ir além da redução de emissões e buscar e destinar especificamente o CO2.